Aparência é apenas a superfície
Você já parou para
pensar que personagens também possuem sentimentos?
Você já parou para
pensar que personagens são criados, em sua maioria, para ter alguma empatia com
uma pessoa real, neste caso o leitor?
Você já parou para
pensar que, sim, esse personagem em questão pode ter problemas? Afinal, eles
são reflexos da realidade, não?
Agora, você já
parou para pensar que esses problemas podem ser os mais diversos, incluindo a
baixa autoestima, a tristeza, a depressão?
Há algum tempo uma
imagem vem circulando pela internet, principalmente em grupos de leitura, que,
sinceramente, me incomoda. Não porque ela é vulgar. Simplesmente porque ela
traz uma questão que nem todos compreendem: a dor e o sofrimento de quem não se
aceita, de quem não se vê com bons olhos. Na imagem há uma garota ruiva de
olhos e pele claros, bonita, com uma legenda do tipo: “’Eu não gosto de mim, eu
sou feia’. Aí a personagem tem essa aparência”. A questão é: quantas pessoas que
são bonitas, dignas de passarela, não se veem com olhos turvados, com uma
sombra que os impede de realmente se verem como são?
Eu posso dizer
isso — não que eu seja bonitão (minha mãe diria que sou um bom partido), mas o
caso é: por minha enorme baixa autoestima, já me senti o pior ser do mundo, já
me senti incapaz de fazer coisas que anteriormente tinha tirado de letra. Sem
mencionar a depressão — que vai e volta em um loop infinito, como uma
montanha-russa — que me traga toda a vontade, toda a cor da vida e me impede de
fazer as coisas pelas quais, normalmente, batalho para conquistar. Então quando
um personagem se acha feio, se acha incapaz, eu o entendo, porque a questão não
é a aparência, ela é apenas a superfície. O que ele/ela sente vai muito além, é
profundo, intrínseco no ser humano que só pode ser resolvido com uma boa dose
de força de vontade e, muitas vezes, com uma ajudinha extra, que pode surgir
dos lugares mais inesperados.
Além do mais,
características digitadas em papel ou tela nem sempre são suficientes para
determinar o que é bonito ou não. O personagem pode ser um ruivo de olhos azuis
brilhantes, alto e com barba bem desenhada, mas não significa que ele é um deus
grego; da mesma forma que um “simples” personagem de cabelos desgrenhados e
olhos escuros e maltrapilho pode ser a pessoa mais linda da história. Isso
dependerá da forma como você, leitor, interpretará a narrativa, de como deseja
vê-la em sua mente. Isso é uma questão singular.
Então, se você é
uma pessoa de autoestima alta, com o astral nas nuvens, e acabar numa história
em que aparentemente uma personagem é linda, porém se acha feia, incapaz,
idiota, sozinha em meio a uma multidão, tente enxergar pelo ponto de vista
dela. O que ela passou para se sentir desse jeito? Quais são as emoções que
possui naquele instante? Afinal, como já mencionado, um personagem tem por uma
das principais características criar empatia com o leitor, e, talvez, ler sobre
esse tipo de personagem é o que falta para você acreditar que a tristeza é algo
que pode afetar todo e qualquer um em diferentes lugares, em diferentes
regiões, em diferentes épocas. Esse feeling não é baboseira.
E eu espero, de
coração, que mais personagens assim apareçam; não para espalhar dor pelos
quatro ventos, mas, principalmente, para mostrar às pessoas que passam por
problemas parecidos que continuar lutando, sobrevivendo ao dia a dia, pode
trazer alguma recompensa. Afinal, estamos aqui para divar, e ter uma vida sem
marcar o mundo com o seu melhor não pode ser considerada uma vida de verdade.
Todos temos uma singularidade para deixar registrada no Universo.
Se você tem algum
dos problemas citados acima, saiba que você não é o único. Procure alguém de
confiança para desabafar ou um profissional; acredite, isso não lhe taxará de
louco e pode ser essencial para lhe dar um up
— por exemplo, eu passei por uma psicóloga que me fez enfrentar meus medos,
traumas e ver o mundo com novos olhos. Apenas não se deixe abater e busque
viver intensamente.
Você pode ser tudo aquilo que desejar.
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